. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
2009-2010 by Ana Freitas
Caminhando nas costas do dragão
Artesanato
A casa de Artesanato da Fajã dos
Vimes abriu portas há não muito tempo, porém, já à cerca de 34 anos que as
fundadoras desta casa praticavam esta actividade.
Aponta-se como uma das primeiras
artesãs desta Fajã a Sra. Rosa São José de Sousa que aprendeu este ofício no
local através de antepassados seus, ensinando-o na sua altura às irmãs
Nunes, artesãs que fundaram esta casa de artesanato. Embora já tenha
falecido, esta primeira artesã deixou inúmeros tesouros, entre os quais os
planos dos desenhos para as colchas e uma colcha que hoje em dia conta com
mais de 100 anos! Como forma de preservar este ofício na Fajã a Sra. Rosa
São José de Sousa ensinou este ofício a cerca de 60 raparigas, todas elas
naturais deste sítio.
Esta casa de artesanato pertence às
irmãs Alzira e Carminda Nunes, aprendizes da Sra. Rosa São José de Sousa,
que iniciaram este ofício tanto por gosto como por ser um meio de ganhar a
vida. Neste momento são as únicas artesãs desta casa.
Esta casa de artesanato, à semelhança
do que acontece por todo o país, também se ressentiu com a crise em que
vivemos, obtendo menos lucro do que era habitual, situação que também é
ajudada pelo facto de não haver exportação deste artesanato, saindo da ilha
apenas da ilha aquilo que é comprado por habitantes de outros locais. Embora
produzam todo o ano, é no Verão que obtém maior lucro e visitas de
interessados. Estes visitantes, quando pretendem comprar alguma peça,
geralmente demonstram mais interesse nas famosas colchas. Uma colcha de
tamanho pequeno tem as dimensões de 2,10 metros de largura por 2,50 metros
de comprimento e demora cerca de 7 dias a ser feita com o trabalho das duas
tecedeiras a trabalhar cerca de 12 horas por dia. As colchas de tamanho
grande têm de dimensões cerca de 2,50 metros de largura por 3 metros de
comprimento.
Fazem-se outras peças além de
colchas, como painéis, tapetes, pegas, etc., porém, estas são menos
procuradas.
De todos os visitantes os mais interessados na compra destes produtos são os
que vêm de fora da Ilha, essencialmente os Açorianos provenientes de outras
ilhas e os continentais. Os Jorgenses também procuram algumas peças, porém,
geralmente para oferta.
Durante visitas tanto portugueses
como estrangeiros ficam fascinados com este ofício pois acham interessante
que, num mundo governado pela tecnologia como é o nosso, o artesanato ainda
seja elaborado completamente de forma artesanal. Além disso fazem várias
perguntas, sendo mais frequentes as questões acerca do início da prática
desta actividade, o tempo de elaboração de uma colcha e os materiais
utilizados na elaboração desta.
Hoje em dia os jovens afastam-se cada
vez mais deste ofício e não demonstram interesse em aprendê-lo embora seja
dito que, com gosto e um pouco de esforço e persistência, seja possível
qualquer pessoa aprender. Apesar disso, não há medo de esta actividade vir a
morrer totalmente pois já a Sra. Rosa São José de Sousa dizia que este ofício iria
acabar, e ele ainda se encontra de pé.
Quais são os principais constituintes de um tear?
Quais os materiais mais utilizados no artesanato?
Como é feita uma colcha?
Principais constituintes de um tear
Os teares têm vários constituintes, sendo alguns as mesas, liços, queixas com pente, ásperas, roletas, tempereiros, premideiras e órgãos.
Quanto ao arranjo dos teares, uma vez que o construtor destes se encontra na Ilha, na Fajã das Vimes, os problemas de funcionamento destes são logo resolvidos, assegurando assim a produção do artesanato.
Principais constituintes de um tear |
|
Materiais mais utilizados no artesanato
Os principais materiais utilizados no artesanato são o linho e a lã, sendo feitas diversas peças com cores naturais e com cores artificiais.
As colchas são feitas sobre uma
teia branca. Esta teia tem que ser primeiramente urdida, ou seja, é
necessário organizar os fios que constituem a mesma num utensílio fixo para
depois os transportar para o tear e os colocar no local especificado. Para
se colocar uma teia no tear são precisas cerca de 4 pessoas sendo que uma
segura a teia em si, outra encontra-se no tear para endireitar os fios e por
fim as duas restantes posicionam-se dos lados a puxar a teia. Esta teia é
formada por conjuntos de 24 fios aos quais se dá o nome de cabestilho. Para
que os cabrestilhos não fiquem emaranhados utiliza-se um fio que os separa.
De seguida une-se cada fio da nova teia aos fios da antiga teia uma vez que
se deixa sempre no tear uma parte dela.
Tendo sido colocada a teia, é possível começar a elaboração da colcha (ou peça desejada). Escolhem-se as cores de lã a utilizar e inicia-se a tecelagem uma vez que os desenhos das colchas são feitos de cabeça pelas tecedeiras, não são marcados na teia. Assim, são colocados os fios de lã da cor escolhida nos locais correctos da teia, efectua-se a troca de pés nas premideiras conforme necessário, e puxam-se os tempereiros, órgãos que proporcionam as “pancadas” características desta actividade, de forma a conferir a forma desejada. Nas peças efectuadas são também feitas interrupções de linho que são locais sem lã e onde apenas é possível ver o linho branco. Estas interrupções são feitas do modo explicado anteriormente.
Está assim explicado, de forma breve e muito simples, o trabalhoso processo de confecção de uma colcha.